Natural a indignação do povo. São anos colecionando dívidas. Grandes e pequenas empresas quebrando, levando consigo milhões de empregos.
Além disso, o noticiário. Centenas de Jornais Nacionais expondo um país nas mãos de organizações criminosas.
A quem olha de fora, parece impossível consertar algo assim, uma ferrugem antiga, que corroeu a matéria boa. Como fosse um organismo morto, algo do tipo "Boi doente de tanto carrapato", que não vale o remédio. E quem vê de dentro, é um desespero.
Um sistema todo voltado à corrupção. Uma nuvem que não deixa o sol aparecer para o restante dos 200 milhões de brasileiros. São mesmo muitos parasitas, e muita vontade de que tudo permaneça como está.
Tudo bem, são visões dramáticas, talvez exageradas, mas é isso quando você liga a TV. E é aí que surgem recursos milagrosos. Um terreno perfeito para soluções fáceis e rápidas. Elixires da ética, da saúde e da riqueza.
Faz tempo que o Brasil procura por esse remédio. Até poderia dizer que encontrou algo parecido, uma vitamina, um pouco de alento, num modelo moderado, plausível, diria eficaz. Mas quebrou o frasco. Bom, aí entraríamos na casa da posição pessoal.
De qualquer forma, hoje a história é essa. Há uma ânsia generalizada de progresso, e até mesmo de ordem. O pessoal quer reinaugurar a bandeira numa tacada só.
Criminosos presos, florestas salvas, e de quebra, Brasil feliz. Quem tiver uma ideia fixa, a mais radical, vira possibilidade. Num universo de incompetência, inoperância, e falta de comprometimento, uma só coisa resolvida torna-se uma luz no fim do túnel.
Mas afinal, criminosos presos ou florestas salvas? Resume-se a isso, o Brasil? A pequenos e desprezíveis extremos? Não que um assunto destes seja desprezível, mas ao jogá-lo contra milhões de outras matérias, importantíssimas ao futuro da Nação, ao colocá-lo numa balança, não se torna ele sim, pequeno? Não deveríamos estar agora discutindo o Brasil, seus 20 e tantos Estados e 30 e poucos ministérios, ao invés de escolher bandeiras fantasiosas, inimigos monstruosos e minas de ouro nos nossos quintais?
Este é o problema do extremo. Ele é pequeno, desprezível, e perigoso. Ele é cego de intenção e mudo de razão. Só quem o vê como solução é o indivíduo vazio e só quem o ouve é o outro extremo. Ouve e acorda. E quando puder, o imita e se vinga. A consequência é um ciclo de extremos, um gritando ao outro suas prioridades desprezíveis em face das enormes necessidades de uma sociedade já cansada. Extremo é tudo o que eu e você não precisamos.